Buscapé

sábado, 21 de setembro de 2013

Para Sempre



Para Sempre (The Vow), à primeira vista, parece o novo filme de Nicholas Sparks - uma dessas histórias de amor impossíveis com um casal lindíssimo, muito drama e belas locações, que surgem perto do Dia dos Namorados. Trata-se, porém, do segundo tema favorito do público que deseja ter seu otimismo reforçado com uma dose de doçura cinematográfica nessa época: um filme baseado em uma história real.

Nele, Rachel McAdams (Sherlock Holmes) vive a esposa recém-casada de um músico (Channing Tatum) que, depois de um acidente de carro, perde a memória. Ao despertar, algum tempo depois, a moça não se lembra do marido - e suas últimas lembranças são de quando ainda morava com os pais (Sam Neill e Jessica Lange) e era apaixonada por outro sujeito (Scott Speedman). Nem de que é vegetariana ela se recorda, devorando bifes. Sem falar no botão "esqueci minha senha", que nunca foi tão clicado.

A trama é contada de um ponto de vista masculino - acompanhamos o marido desesperado tentando reconquistar a esposa, fazendo-a lembrar de sua vida juntos. Mas Para Sempre não traz nada que outras produções, que acompanham a ação através da protagonista, não tenham. É só um filme para o público feminino com um protagonista idealizado.

E essa idealização começa da escolha do elenco. Tatum, ex-stripper na vida real, é desses caras que parecem capa da revista Julia, o brutamontes sensível com bom gosto para roupas e uma determinação pelo seu amor que transcende qualquer esforço. Como se essa ideia não fosse difícil o suficiente de engolir, sua atuação limitada (e narração) prejudicam ainda mais a experiência. McAdams é melhor, mas a dose de fofura é um pouco demais para suportar (praga da cultura hipster, que não por acaso permeia o filme com chapéus que não cabem direito na cabeça, camisas xadrez e um casamento escondido em um museu).

Porém, há bons momentos no roteiro, como a decisão da esposa de não voltar para a casa dos pais e testar a vida conjugal, uma interessante escolha movida pela lógica da personagem. "Se EU me casei com ele deve ser por algum motivo".

O diretor e corroteirista Michael Sucsy, pouco conhecido, faz também um bom trabalho com a fotografia (Chicago está belíssima) e especialmente na seleção musical. "Pictures of You", do The Cure, foi um acerto. O fato da história ser baseada em acontecimentos reais também ajuda a "comprar" a ideia do filme, que é bem-sucedido em entregar ao seu público o que ele deseja. Mas se você, como muitos, vê na amnésia da parceira uma maneira sem culpa de encontrar seu próximo amor, evite.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Invocação do Mal- Resenha





Reza a lenda de que os melhores filmes de terror são aqueles passados dentro de uma casa e com a família no centro da ação. Não se precisa ir muito longe para constatar que tal afirmação é imbuída de total verdade, só lembrarmos rapidamente de filmes como O Iluminado (1980), Os Outros (2001) e até mesmo o recente Sobrenatural (2011), do mesmo James Wan que dirige o filme aqui em questão, Invocação do Mal. No entanto, não somente a ambientação e elenco garantem um resultado final satisfatório, se precisa entender os signos do medo, talvez por isso produções recentes como A Entidade (2012) naufragaram em seu propósito, pois provocar sustos – simplistas – é totalmente diferente de impelir um temor palpável a audiência.

E o diretor James Wan parece entender essa diferença como poucos no atual panorama de cinema de terror. Baseado em um caso real, Invocação do Mal também causa diversos sustos, mas tais artífices do gênero se tornam naturalmente inerentes a atmosfera crescente de pânico construída desde o primeiro momento que a família Perron vai morar em uma antiga mansão à beira de um lago. A câmera que enquadra os Perron de dentro de casa e o cachorro que se nega a entrar na residência já denotam o mal presságio, demonstrando também que o diretor domina a utilização dos clichês para construir tensão. Ao mesmo tempo, também somos apresentados a Ed (Patrick Wilson - Uma Manhã Gloriosa) e Lorraine Warren (Vera Farmiga – Contra o Tempo), dois conceituados consultores de assuntos sobrenaturais.

Antes de assumirem o caso da mansão dos Perron, os Warren lidam com um acontecimento na casa de duas enfermeiras, relativo a possessão de uma boneca chamada Annabelle. De um jeito ou de outro, os fatos relativos a Annabelle vão permear a trama de Invocação do Mal. Estritamente profissionais, devotados ao seu ofício – tanto que Ed recebe apoio de um padre e é reconhecido pelo Vaticano -, Ed e Lorraine não relutam muito à aceitar investigar os episódios sinistros na casa dos Perron. Tudo começou a acontecer desde quando uma das cinco filhas do casal – Roger (Ron Livingston – Amor à Distância) e Carolyn (Lili Taylor) – passa a sentir o pé puxado durante a noite. Logo eles começam a sentir uma presença estranha entre eles e mais fenômenos inexplicáveis não tardam advir.

Nesse processo de construção da ameaça, James Wan trabalha com muita consistência a encenação nas sombras, onde qualquer canto com penumbra pode surgir um indício de perigo imediato. O bater de palmas inicialmente utilizado pelas meninas durante a tradicional brincadeira de esconde-esconde acaba por se fazer como um simbolismo pontual do medo em Invocação do Mal. De fácil identificação com a audiência, é o tipo de recurso que acaba transcendendo sua utilização no filme e invadindo o cotidiano das pessoas. Certamente quem assistiu o filme em turma vai usar as palmas como forma de assustar os amigos em algum momento oportuno. É James Wan imprimindo marcas de sua obra na memória afetiva (?) das pessoas.

À medida que os Warren se instalam na casa dos Perron, as ocorrências se tornam mais frequentes. Principalmente porque o casal de investigadores, munidos de equipamentos apropriados, passam a desafiar as entidades que habitam a casa. Sendo uma medium poderosa, Lorraine sente que o passado – não somente da casa, mas de toda a localidade – denota circunstâncias funestas e que não será fácil se livrar do principal espírito que está assombrando a família. Aqui, é importante salientar o eficiente trabalho de Patrick Wilson e Vera Farmiga. Com visível entrosamento em cena, ambos entregam personagens calcados em uma devoção irrestrita ao cargo que ocupam. Por vezes, a crença de que estão ali por serem enviados de Deus beira um fanatismo ufanista.

Seguindo à risca o caso real, ou não, creio que Invocação do Mal atinga seu ápice antes mesmo do clímax final, que inremediavelmente é resolvido de uma maneira deveras tradicional aos filmes do gênero. Não é um demérito que comprometa o todo, mas por ser um lugar comum explorado em demasia pelo recente cinema de terror, acaba passando um sensação de déjà-vu meio incômoda. Se pensarmos melhor, talvez não seja culpa do filme de James Wan – visto que é todo calcado em uma convencionalidade oportuna -, mas de outras obras inferiores que reduziram o ato à algo trivial. Destarte, o grande mérito de Invocação do Mal é envolver o espectador com uma história bem contada, dirigida com competência e sem estilismos desnecessários. E James Wan se estabelece como um realizador de terror a ser sempre observado.

Para os amantes de filmes de terror espero que gostem ^^.